Música

Cante Alentejano | Património do Alentejo e agora da Humanidade

27 Nov , 2014  

É com grande alegria e enorme orgulho que o Tezturas anuncia que o Cante Alentejano foi classificado como Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO, hoje pelas 10:18 em Portugal, o comité da UNESCO tomou a decisão em Paris. Durante a análise a proposta portuguesa foi avaliada como um dos “bons exemplos de candidaturas selecionadas pelo comité”.
Sobre o cante, de uma forma muito sucinta, é definido como “um canto coletivo, sem recurso a instrumentos e que incorpora música e poesia”, mas é muito mais do que isso.

 

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Para quem é alentejano como eu, é algo que não se explica, sente-se. Desde miúdos que somos habituados a ouvir, de forma informal as modas, que vamos interiorizando, ao longo do nosso percurso, em casa, na escola, em eventos culturais. Tudo isto faz parte do meu imaginário, ainda hoje me lembro da Senhora Cegonha, uma das minhas modas preferidas.

Neste vídeo, bastante antigo registado numa taberna em Cuba, percebe-se a atmosfera que envolve o Cante.

Apesar de não ter vivido nesse tempo, sei que a origem do Cante Alentejano, está muito associada ao trabalho no campo. Enquanto as pessoas faziam as suas jornadas, a ceifar os campos, cantavam em grupo, assim como no regresso a casa e à noite nas tabernas. Tenho essa noção pelo que a minha avó materna me contava.
Apesar de estar muito ligado ao meio masculino, as mulheres também têm um papel activo no Cante, existindo grupos mistos e exclusivamente femininos.

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Toda a indumentária que os Grupos Corais adoptaram, e o ritual na forma como os cantadores se apresentam e movimentam é característica e única. É também notória as influência que o Cante Coral tem tido na música portuguesa, que cada vez mais, vai buscar referências ao passado da música tradicional.

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É certo que é uma música melancólica e um pouco triste, que carrega consigo um peso, à semelhança do fado. Não sei se pela sua origem no povo, que na sua humildade carregava o fardo do trabalho árduo, ou se é devido à melancolia que caracteriza o português no geral. A verdade é que este era também o meio de exteriorizar todo este sentimento. Também me habituei a ouvir as modas em jantares e festas, ainda que o registo seja sempre  um pouco parado, é algo que nos enche a alma e nos identifica enquanto povo, neste caso alentejano. Mesmo quem não é alentejano, não fica indiferente ao Cante Alentejano.

Sempre acreditei nesta candidatura, apesar dos espíritos mais cépticos, incluindo o governo, que em 2012 considerou prematuro avançar com a proposta. Foi um trabalho muito bem feito, que tenho vindo a acompanhar desde 2013. Tenho a congratular o Município de Serpa e a Casa do Cante, a Casa do Alentejo em Lisboa, e a Confraria do Cante Alentejano e da Moda – Associação do Cante Alentejano.
Este reconhecimento internacional irá com certeza, dar uma projecção muito positiva a esta nossa herança cultural, e contribuirá para que seja imortalizado nas gerações futuras, algo que é precioso para o património Alentejano e Português.

Uma vez mais, repito, que tenho muito orgulho no meu Alentejo.
Veja em baixo o vídeo da candidatura. Para quem ainda não viu, Tezturas recomenda ainda, o documentário “Alentejo, Alentejo” de Sérgio Trefaut.

Cátia Marcelino

 

Sérgio Trefaut

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