Saber Viver, Vida

Dia da mulher | dia 8 devia ser todos os dias

8 Mar , 2015  

Sou mulher, e gosto de o ser todos os dias. Gosto de o ser nos dias em que sou elogiada, quando me dizem “tornaste-te uma linda mulher“, ou porque sou competente naquilo que faço, ou quando oiço um “tens muito jeito para isto” ou por saber que essa condição me possibilita um dia vir a ser mãe.

 

Mesmo nos dias que me correm menos bem, gosto de ser mulher. Quando no trabalho o colega homem é sempre mais reconhecido, ou no dia em que sou assediada só por estar a usar saia, ou porque simplesmente alguém diz, “ah e tal isso é tarefa de homem” ou “não te queixes, as mulheres são sempre favorecidas”, quando na verdade é exactamente o oposto. Mesmo que seja a “sofrer” ou revoltada, prefiro sempre ser mulher.
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Quem nunca se deparou com este tipo de situações, que por vezes nos fazem questionar, se poderia ser mais fácil ser homem? Já nem falo dos períodos, das depilações e da obrigatoriedade de estarmos sempre lindas e em forma, enquanto que os homens, podem ter aquela barriguinha ou deixar a barba por fazer e há sempre um perdão. Nem são estas coisas que me chateiam, refiro-me ao preconceito, que por mais que a sociedade evolua, há marcas que insistem em não ser apagadas.

 

Os homens ocupam ainda hoje, preferencialmente os cargos de chefia, são melhor remunerados, são os que ocupam maioritariamente os cargos no governo. Talvez por serem os que não pedem licenças de maternidade, ganhando vantagem a nível profissional face às mulheres. Um sem fim de coisas, que “nós” mulheres temos vindo a colmatar, mas que ainda estamos longe de conseguir igualar, não por falta de mérito, empenho e capacidade, mas pela esquizofrenia económica em que se tornou o mundo profissional actual.
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Recuso-me a ser hipócrita ao ponto de afirmar que fisicamente estamos em pé de igualdade, mas ninguém disse que o queríamos. Sei de mulheres que fazem trabalhos pesados, de uma forma irrepreensível, o que em nada as torna menos dignas, muito pelo contrário. No entanto, o que a genética nos dá é mais difícil de contrariar e aí a força está (literalmente) do lado masculino, aceito perfeitamente que os trabalhos mais pesados fiquem a cargo dos homens, assim como outros que exigem mais delicadeza, a cargo do sexo feminino, ressalvando sempre as excepções.

 

“Então, mas se querem igualdade, têm que ser tratadas por igual.” – Tudo errado! Agrada-me que o meu homem seja um gentleman, e que os outros também o sejam no geral. Que me deixem passar primeiro, que me abram a porta, que me carreguem os sacos. Afinal de contas, somos seres que andam de salto alto, que vestem roupas finas, que têm as mãos delicadas, que metem os filhos (dos homens) no mundo e os amamentam, tal como as suas mães o fizeram, por isso, parece-me mais que justo que façam essas gentilezas por nós. Afinal, nós fazemos tantas coisas por eles.
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A história é já aqui atrás, ainda em pequenina, perguntava, “Mas avó, porque é que o mano não põe a mesa?” e respondia a minha avó “Porque é homem, onde é que já se viu?”. Sempre tive uma faceta maria-rapaz, ainda que de totós e vestida de cor de rosa, adorava brincar com os carrinhos, jogar à bola, e até coleccionar cromos da bola. Pelo que a diferença entre as actividades dos géneros simplesmente justificada por isso, me fez confusão, tinha que haver uma explicação, porque é que o meu irmão não podia fazer certo tipo de tarefas, ou porque é que eu não podia jogar à bola com os meninos. Mas era assim, já ali no final do século XX, tínhamos evidências bem claras do papel que era esperado da mulher.

 
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Felizmente, na actualidade já nos é possível viajar sem autorização do marido, trabalhar, ser mãe, cuidar da casa tudo ao mesmo tempo e sermos felizes. Ser mulher é tudo isto e mais um pouco. A emancipação trouxe-nos até aqui. Foram necessárias algumas mortes pelo caminho. No entanto, ainda hoje, as mulheres continuam a ser em maior número no que toca à violência doméstica. Estamos no caminho certo, mas há ainda muito para percorrer no que à igualdade diz respeito.

 

Mas hoje é dia de comemorar, ver os exemplo de força, que nos inspiram, por todo o mundo, ou em casa. A minha mãe é o meu maior exemplo, é uma lutadora por natureza e tenho nela a melhor das referências e orgulho em ser mulher. Por isso também agradeço todos os dias ter nascido assim, disposta a encarar todas as dificuldades que este “posto” me possa trazer.
E vestir roupas ultra femininas, usar stilettos, arranjar o cabelo, pintar as unhas, desde criança, são a minha perdição. Sempre foi um guilty pleasure experimentar os sapatos altos da minha mãe, e maquilhar-me às escondidas, a satisfação compensava o raspanete.

make up

 

No fundo, ser mulher e tudo o que isso acarreta faz de mim mais inteligente, mais forte e corajosa, faz de todas nós, desde que nos respeitemos, não desistamos e acreditemos que conseguimos ir mais além.

 

A todas as mulheres do mundo: Bem hajam!  ou Feliz Dia da Mulher!

 

Cátia Marcelino
Orgulhosamente mulher

Fotografia por João Luís Santos

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