Cultura, DIY

Workshop de Tipografia | Conto-vos como foi

29 Set , 2016  

Há uns meses atrás tive o prazer de fazer um workshop de Tipografia, na Tipografia Dias.
Nos dias que hoje correm encontrar uma tipografia destas onde se aprendem os processos à antiga, é coisa rara, e essa é uma das grandes mais valias deste workshop.

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Localizada em Alvalade, a Tipografia Dias, além de outras actividades, organiza estes workshops, (altamente concorridos), num antigo espaço que foi recuperado. O fundador do espaço é Rúben Dias, Designer Gráfico, recentemente doutorado pela Faculdade de Arquitectura de Lisboa, numa interessante tese: “Tipos de letra do séc. XVIII na Impressão Régia, design e desenvolvimento de uma interpretação histórica”.

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O workshop foi dirigido pelo Rúben e na parte prática contámos também com a preciosa ajuda do Ricardo Dantas.

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O material à nossa disposição é mesmo autêntico e por sua vez, antigo, mas a oferta é ainda bastante vasta. Por exemplo, os caracteres e respectivas estantes de arrumação são tão bonitos, que quase nos bastam como belas peças decorativas. Felizmente, apesar da idade já longa do material que ali se encontra, tudo está em bom estado de conservação e totalmente funcional.

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Mas comecemos pelo inicio, em que nos é dado um enquadramento teórico do que é, e quando surgiu a tipografia focados na fase do prelo de Gutenberg até à sua mutação e mecanização na Revolução Industrial.

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São explicados alguns dos nomes da ferramentas que iremos utilizar ao longo do dia, e os conceitos mais importantes para podermos meter a mão na massa. Aprende-se ainda o que é um punção, um tamborente ou uma entrelinha. A componente prática predomina na sessão e temos sempre o apoio imprescindível dos nossos “mestres tipografos”.

 

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A única coisa que devemos levar obrigatoriamente preparada, é a frase, com que iremos criar a nossa composição, com a ajuda da regreta e do componedor, para por fim imprimir para o papel. Se quisermos levar papéis de diferentes texturas para testar é sempre uma boa ideia.

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Fotografia do “Manual prático do Tipógrafo”, Joana Monteiro e Rúben Dias.

 

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Pode até parecer uma tarefa fácil, mas desengane-se quem acredita nisso. Claro que se compunham, livros, jornais, cartazes, tudo aquilo que possamos imaginar, através da tipografia, que na realidade era a única forma de impressão. Mas, isso carecia de mestria, habilidade e muita, muita prática, para poder agilmente desempenhar esta função.
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Ora bem, para começar podemos utilizar o componedor para nos organizar, depois na forma os caracteres devem ser compostos da direita para a esquerda, e invertidos, o que para o nosso pensamento formatado pode não ser imediato. Estão a acompanhar? Depois é necessário preencher toda a forma com os espaços onde ficam os vazios, para que fique tudo bem ajustado e no momento em que vamos “dar fogo à peça”, não se perca nada pelo caminho.

 

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As tintas espalham-se com uma espátula em cima de um superfície plana e em seguida passa-se o rolo na composição, para a passar para o papel. Isto tudo, claro, no prelo, a belíssima máquina de impressão manual. Na tipografia Dias encontramos duas ao nosso dispor. No outro, a tinta é passada no rolo.

 

 

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O resultado é gratificante. É um desafio desenvolver o processo do inicio ao fim. Temos a possibilidade de fazer “provas”, experimentar diferentes tintas, em diferentes cores de papel, obtendo efeitos completamente distintos com a mesma composição gráfica.

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Quem participa neste workshop sente-se totalmente à vontade para executar de forma descontraída o trabalho proposto. Tem a possibilidade de trocar impressões curiosas com os outros participantes, sente-se sempre acompanhado pelo Rúben e pelo Ricardo e tem ainda a possibilidade única de trabalhar com ferramentas excepcionais.

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O meu resultado final.

Pessoalmente foi muito enriquecedor, estava longe de conhecer a história da tipografia e saber quão complexa e rica é. Apesar da evolução até aos dias de hoje, a tipografia na sua essência tinha um charme incomparável, que nenhum outro método poderá ultrapassar. Adorei sentir o cheiro e tocar naquelas peças únicas todas feitas e pensadas ao pormenor. Poder concretizar aquilo que idealizei, com as minhas próprias mãos foi um verdadeiro estimulo, e aconselho vivamente.

Obrigada Tipografia Dias, continuem o bom trabalho!

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