Saber Viver

Hoje é dia do Pai | o meu (pensamento) não está aqui

19 Mar , 2015  

Mesmo que não quisesse, é impossível passar ao lado deste dia. Está anunciado em toda a parte, na tv, no jornal, no facebook, até no doodle do google.
E não que hoje me lembre mais, lembro-me dele todos os dias, simplesmente, custa mais um bocadinho (quem me conhece, sabe que dou importância e gosto de celebrar todas as datas e acontecimentos), prefiro tentar ignorar este.
Ainda me lembro de muitas coisas. Dos dias em que íamos à horta, dos dias que íamos à pesca, de ser a sua menina, de me pedir para não cortar muito o cabelo. Lembro-me da primeira vez que fui ao cinema, foi ele que me levou. Lembro-me das borboletas que me oferecia, ainda guardo algumas. Lembro-me de como era terno e meigo e como me repreendia quando tinha que ser, incluindo não sair da mesa até terminar o que estava no prato. Lembro-me das sessões de cócegas, que iam até às lágrimas, lembro-me das sestas encostadas ao seu ombro de gigante.

Sei que me faz falta, mas que está sempre sempre aqui, comigo. Não sei como vai ser no dia em que entrar pela igreja para me casar, fisicamente vou sentir a sua ausência. Acho que ao perdê-lo, perdi também esse sonho de menina, o casamento. Mas a vida fez-me perceber, que o amor e a fé, fazem-nos ter outra perspectiva das coisas, e lá estarei, para me casar, com o homem da minha vida, no sítio onde também o outro homem da minha vida se casou, e fez a sua metade muito feliz e onde quer que ele esteja agora, marcará a sua presença, nesse dia especial, nos nossos corações.

Compartilho esta dor, com mais uma meia dúzia de amigas muito próximas, cujas histórias chegam a ser parecidas, tentámos sempre cada uma à sua maneira, colmatar a falta que a figura paterna nos faz e ultrapassar esta lacuna nas nossas vidas, reavivando a memória e falando do assunto. Algumas de nós crescemos à força, outras nem tanto, cada qual reage como consegue. Posso dizer que me tornei uma pessoa mais fria, não o nego, afinal, não me posso queixar, tenho a sorte de ter uma mãe que é pai, amiga, professora, que é tudo, e que nunca falhou, nem desistiu. Por isso, este dia, actualmente, também é o dela. Também a ele agradeço, aquilo que hoje sou, embora saiba que a história teria sido escrita de maneira diferente, se ainda estivesse por cá.

Já tenho saudades, vou tê-las sempre. Por mais que esse receio me possa perturbar, nunca o esquecerei, mas as memórias com o passar do tempo ficam difusas. O chocolate belga, a barba que picava, os nossos beijinhos de esquimó, os banhos de mangueira no quintal, aquele colo, as danças em qualquer parte, só porque sim. Ele era muito especial e fez de mim uma criança muito feliz. Toda a gente que nos rodeava, se apercebia da forte ligação que tínhamos, da nossa cumplicidade, daquelas coisas que não se explicam, só se sentem.

Sinto falta do seu grande abraço, da tranquilidade que me transmitia e daquele sorriso largo que nos faz crer que a vida será sempre feliz.
Ele foi e nunca deixará de ser, o meu herói.

Feliz dia do Pai…

Cátia Marcelino

Fotografia: João Luís Santos

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